A Indelicadeza do Amor Escrita Com a Tinta do Coração.

Não se diz em poucas palavras o que nem mesmo com muitas se pode dizer.

É falhando na tentativa de falar muito que eu descobri o quanto tentar me explicar é, na maioria das vezes, uma tentativa em vão. A gente procura loucamente alguma frase que se encaixe naquele momento oportuno, caça outras poucas frases feitas e até usa os mais ridículos clichês. Quanto mais fundo tentamos encontrar algo, mais difícil fica pra organizar tudo depois. É assim com as palavras e funciona assim com a vida.

O quintal de casa era prova fiel de tudo isso que hoje escrevo aqui. Sempre que encontrava algo que me despertava interesse eu pegava e levava pra casa, pra deixar em algum canto do quintal, por mais inútil que fosse. Não me dava conta do entulho que juntava aos poucos e a medida que o tempo ia passando eu queria mais e mais coisas. O mendigo abrigado dentro daquele moleque de doze anos mal sabia que, anos depois, teria em seu peito também um quintal, tal como aquele que servia de depósito dos seus mais variados souvenirs.

O tempo passa rápido demais e não há nada que possamos fazer pra assumir o seu controle. Percebo o peso da idade quando olho pra dentro de mim e vejo cada vez mais o sentimento da saudade, que cresce inexplicavelmente sem que eu consiga lidar com sua presença. O terreno dela parece não comportar seu peso, e com isso eu sou o único a sentir – e sentir muito – a falta daquilo que não está mais ali.

Porque dói demais lembrar o que eu já não tenho.

A saudade mostra o que é de verdade e quando ela foge do controle nos resta administrar na cabeça – e no coração – tudo aquilo com capacidade de fazer o peito parar, só que a gente nasce sem manual de instrução e é no fio da navalha que aprendemos a lidar com isso. Sei que quem inflama de saudade possui a alma pura, e bem-aventurados os que usam dela pra ensinar ao mundo o que realmente vale a pena, que mostram que o abstrato é o que faz com que se perca o ar levando ao mergulho profundo dentro de si próprio, só que eu costumo fazer isso sem tubo de oxigênio. O que falta no mundo de hoje é profundidade. Desbravar o quintal de casa nunca foi tarefa tão difícil quanto é, e eu digo desbravar no sentido literal da palavra. Eu faço questão de redescobrir o mendigo abrigado dentro do meu eu versão doze anos justamente porque ele tem a essência da busca e sabe que é no coração que a gente guarda as melhores coisas da vida. Foi no quintal de casa que eu encontrei a comparação perfeita pra esse coração que possui os sentimentos mais puros que alguém já tivera.

Tem gente que passa pelo nosso quintal e nem se dá conta de que é lá que a gente costuma mostrar o que tem de mais bonito, mas a superficialidade da visita é tão grande que a pessoa parece estar de olhos fechados. Tem gente que passa, aprecia, e vai embora. Há outras que resolvem ficar pela sentimento que acham que sentem, mas não ficam muito por não estarem acostumadas com a cumplicidade e respeito necessários nos dias de hoje. Tem gente que visita mas nem chama a atenção de tão desinteressante, e às vezes elas mesmas deixam alguma sujeira proposital só pra enfeiar seu território mas eu costumo no cuidado diário jogar fora o lixo que o outro deixou. E a vida faz mais sentido quando você, algum dia, recebe alguém que se dispõe por conta própria a consertar as coisas quebradas que deixaram te incomodando.

Tem coisas que só são possíveis há quatro mãos.

De todas as pessoas que passaram pelo meu quintal houve uma que fez mais que consertar, mais que retirar os excessos de entulho. Arou o terreno e resolveu plantar. Veio no verão e talvez isso explique as andorinhas que voltaram a cantar. Um sentimento que havia morrido renasceu, mesmo que pequeno e sem rótulo ainda, quando percebi o terreno novamente vivo. E é assim, vivo, que a gente merece e tem que sentir e perceber o que de melhor há guardado no coração da outra pessoa, principalmente se ela resolveu plantar o amor. Mas a superficialidade é tamanha que, numa dessas brechas que o mundo tem, você se foi quando eu mais precisei. Arou, plantou, nasceu. Mas não colheu. Agora eu travo uma luta diária comigo mesmo pra arrancar do meu quintal o que era seu e que hoje está em cada canto aqui dentro, mas sentimentos não morrem facilmente porque nós continuamos alimentando-os com as memórias.

As memórias se arrastam com o tempo e algumas até se desfazem, mas algumas encontram consolo, algum mísero alívio nas pequenas brechas da poesia e da vida. Você é minha memória inconsolável, feita de pétala e espinho, e é dela que tudo nasce e ressurge.

Um comentário:

  1. Irmaum, eu to te seguindo fais tempo e to achando q vc ta se saindo mto beim msmo, axo q vc e dms msmo por isso to afim de te mata de jeito q a gente sai la fora msmo.

    abrasos, cladecir.

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