Remetente Sem Destinário

Minha literatura anda por lugares jamais visitados por mim anteriormente. Ela percorre um trilho inédito e desconhecido, enfurecida, tal como se estivesse a procura de um autor capaz de empunhar a caneta apenas pra transcrevê-la em algum lugar inóspito. Ela não pode rabiscar qualquer papel, tem que ser uma daquelas inúmeras folhas empoeiradas deixadas num canto qualquer de uma memória carente.
Totalmente inutilizadas, essas folhas servem de matriz pra um emaranhado de histórias ainda-não-contadas. Minha borracha não apaga a tinta da caneta, e o mais sensato a ser feito é mudar a ferramenta de texto, para que os erros sejam definitivamente apagados ao invés de virarem garranchos notáveis, daqueles que você percebe e vê antes mesmo de ler o próprio título. Minha vida não é um seriado.
A tua também não.
Eu imagino que você vai aparecer do nada e agora eu estou escrevendo apenas pra você saber que eu ainda estou vivo. A minha história quem escreve sou eu, mas não consigo falar sozinho por muito tempo. É como em um avião, onde o piloto possui a árdua tarefa de comandar aquele bicho-papão-alado, mas ele não teria total sentimento de realização se não fosse também dado um mérito de consideração ao seu co-piloto. Na nossa realidade não é muito diferente. O avião representa a vida, e nós somos o piloto no comando da aeronave. Mas, quem aqui é capaz de tamanha façanha SOZINHO?
Que atire a primeira pedra quem nunca se rendeu a um romance. Esse sim, é um avião desgovernado sem precedentes, mas a única diferença é que o co-piloto vai de coadjuvante à protagonista e se torna o comandante, enquanto o próprio piloto se encontra perdido em seu costumeiro local.
Piloto e co-piloto. Protagonista e coadjuvante. Eu e você. Reticências da vida real. Tenho um lápis na mão e uma folha rasurada pronta pra ser utilizada. Guio meu avião em linha reta sem adentrar qualquer bifurcação. Atuo no hoje já pensando no amanhã. Uma semelhança? Ainda me falta alguém pra trazer a borracha quando eu errar, me falta também aquela aeromoça promovida a co-pilota pra me ajudar na labuta do dia-a-dia e, coincidentemente, ainda me falta uma atriz coadjuvante pra dar ênfase à essa peça que auto intitulei como minha vida.
O tempo voa e se arrasta ao mesmo tempo. Voa a favor do vento, mas se arrasta pra prolongar o que é bom. Vem, vambora, tô te esperando! É intensa a vida de quem possui um romance.
Ninguém consegue viver sozinho por muito tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário